O nome "crônica" tem origem do latim Chronica e do grego Khrónos (tempo). Conforme esse tempo, retrata um fato a respeito de um ou mais acontecimentos ocorridos em um determinado espaço de tempo.
A CRÔNICA ARGUMENTATIVA é um tipo de texto curto que apresenta a visão pessoal do cronista sobre um fato colhido no noticiário jornalístico ou no cotidiano. Esse tipo de crônica, ao ser desenvolvida, formula uma tese e defende-a por meio da argumentação e da exemplificação.
QUAIS AS CARACTERÍSTICAS?
1) É um texto que apresenta o ponto de vista do cronista sobre um assunto do cotidiano, geralmente, polêmico;
2) Trata o tema de forma subjetiva, marcada pela sensibilidade e pelas emoções do cronista;
3) Expõe argumentos que fundamentam a opinião do cronista;
4) Pode apresentar uma conclusão-síntese que retoma as ideias do texto e confirma o ponto de vista defendido;
5) A linguagem pode ser criativa e figurada, geralmente, de acordo com a variedade padrão, formal ou informal, da língua;
6) Possui como característica principal a argumentação e a persuasão;
7) A linguagem é coloquial, simples e direta;
8) Os textos são relativamente pequenos;
9) Apresenta temas do dia a dia e, em sua maioria, polêmicos;
10) Pode apresentar as características de um texto crítico, de humor e/ou irônico;
11) Induz à reflexão;
12) Apresenta subjetividade e criatividade;
13) Possui estilo jornalístico e literário;
14) Poucos personagens, se houver;
15) O tempo e o espaço são limitados;
16) Tem caráter contemporâneo.
Exemplo:
CRÔNICA "TECNOLOGIA",
DE LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
Tecnologia Para começar, ele nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que a gente olha de cima, com superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer. A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa. Com o computador é diferente. Você faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Simplesmente ignora você. Mas se apenas ignorasse ainda seria suportável. Ele responde. Repreende. Corrige. Uma tela vazia, muda, nenhuma reação aos nossos comandos digitais, tudo bem. Quer dizer, você se sente como aquele cara que cantou a secretária eletrônica. É um vexame privado. Mas quando você o manda fazer alguma coisa, mas manda errado, ele diz “Errado”. Não diz “Burro”, mas está implícito. É pior, muito pior. Às vezes, quando a gente erra, ele faz “bip”. Assim, para todo mundo ouvir. Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e meia errava. E lá vinha ele: “Bip!” “Olha aqui, pessoal: ele errou.” “O burro errou!” Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando outro igual a ele o estiver programando. A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria “bip” em público. Dito isto, é preciso dizer também que quem provou pela primeira vez suas letrinhas dificilmente voltará à máquina de escrever sem a sensação de que está desembarcando de uma Mercedes e voltando à carroça. Está certo, jamais teremos com ele a mesma confortável cumplicidade que tínhamos com a velha máquina. É outro tipo de relacionamento, mais formal e exigente. Mas é fascinante. Agora compreendo o entusiasmo de gente como Millôr Fernandes e Fernando Sabino, que dividem a sua vida profissional em antes dele e depois dele. Sinto falta do papel e da fiel Bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora, e que nele foi substituída por um botão, que, além de mais rápido, jamais nos sujará os dedos, mas acho que estou sucumbindo. Sei que nunca seremos íntimos, mesmo porque ele não ia querer se rebaixar a ser meu amigo, mas retiro tudo o que pensei sobre ele. Claro que você pode concluir que eu só estou querendo agradá-lo, precavidamente, mas juro que é sincero. Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina. Sabendo que ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha.
Luís Fernando Veríssimo.
BIBLIOGRAFIA:
TEXTO & INTERAÇÃO, William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães, editora Atual.
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