O que é a figura de linguagem?
Chamamos de figura de linguagem os recursos expressivos empregados para gerar efeitos nos discursos, ampliando a ideia que se pretende passar e que não seria possível com o uso restrito e literal das palavras. Esses recursos podem dar o efeito de exagero, ausência, similaridade, lirismo ou estranheza, priorizando a alteração da construção das sentenças ou a semântica (o significado) ou a sonoridade (a forma).
Vamos conhecer as principais figuras de linguagem e seus usos.
Principais figuras de linguagem
FIGURAS DE SEMÃNTICA
Metáfora
A metáfora ocorre quando se faz qualquer comparação sem utilizar expressões que indiquem que uma comparação está sendo feita (“como”, “tanto quanto”, “parece”, entre outras).
Exemplo:
Você tem uma pedra dentro do peito.
No exemplo, a metáfora serve para dizer que a insensibilidade de alguém é como um coração tão duro quanto uma pedra.
Catacrese
A catacrese ocorre quando não existe um termo específico para designar algo, e, por isso, utiliza-se outros termos para substituir essa falta.
Exemplo:
Precisei chamar um marceneiro para consertar o pé da mesa.
Não existe um termo específico para designar tal parte da mesa, por isso, toma-se “pé” como empréstimo para designá-la.
Personificação (Prosopopeia)
A personificação ocorre quando se atribui características humanas àquilo que não é humano, como objetos ou sentimentos.
Exemplo:
Eu podia ver o cansaço rastejando-se no chão e vindo em minha direção.
Na frase, atribui-se um corpo à sensação de cansaço, que se rasteja em direção do eu-lírico.
Sinestesia
A sinestesia ocorre quando se constrói uma expressão que mistura duas sensações diferentes entre aquelas percebidas pelos órgãos sensoriais.
Exemplo:
Tinha olhos bem pretos, quentes e doces.
Na frase, temos a mistura da visão (“bem pretos”) com o tato (“quentes”) e o paladar (“doces”) para descrever os olhos de alguém.
Acesse também: Simbolismo – poesias com diversos exemplos de sinestesia
Gradação
A gradação ocorre quando se utiliza uma sequência de palavras que intensifica uma ideia.
Exemplo:
Estava muito frio, congelando, uma temperatura glacial.
Na frase, temos a gradação na descrição do frio para intensificar a ideia de que a temperatura estava realmente baixa.
Metonímia
A metonímia ocorre quando se substitui um termo por outro. Essa substituição, porém, é feita pela proximidade de referências entre os dois termos.
Exemplo:
Comeu o prato todo.
No exemplo, “prato” substitui o termo “comida”, que estava dentro do prato. A metonímia também ocorre com a omissão de termos, subentendidos por outros.
Exemplo:
Adoro ouvir Caetano Veloso.
No exemplo, “Caetano Veloso” é o termo que equivale a: músicas do Caetano Veloso.
Ironia
A ironia ocorre quando se expressa uma ideia por meio de uma construção que diz o oposto do que realmente se quer dizer.
Exemplo:
Não para de chover: que ótima ideia vir hoje para a praia.
Hipérbole
A hipérbole corresponde ao uso intencional de expressões muito exageradas para passar-se uma ideia.
Exemplo:
Que demora! Estou esperando há séculos!
A expressão “há séculos” é um exagero para indicar que se estava esperando há muito tempo.
Eufemismo
O eufemismo ocorre quando se utiliza expressões para atenuar uma ideia tida como agressiva ou desagradável.
Exemplo:
Ele estava muito doente e acabou batendo as botas.
A expressão “bater as botas” é um equivalente para “morrer”, a fim de expressar esse conceito de maneira atenuante.
Antítese
A antítese dá-se quando se utiliza duas palavras ou ideias com significados opostos.
Exemplo:
“Quem ama o feio, bonito lhe parece.” (Ditado popular)
Na frase, “feio” e “bonito” são ideias opostas, mas utilizadas em conjunto para passar o pensamento desse ditado popular: se alguém ama uma pessoa considerada feia, tal pessoa será considerada bonita pelo ser que a ama.
Paradoxo
O paradoxo ocorre quando duas expressões opostas são utilizadas de maneira que foge à lógica.
Exemplo:
Ela achava-o feio e bonito ao mesmo tempo.
Não faz sentido que alguém seja considerado feio e bonito ao mesmo tempo por alguém, por isso, na frase, ocorre paradoxo.
FIGURAS DE SINTAXE
Pleonasmo
O pleonasmo ocorre quando a mesma ideia é repetida excessivamente com palavras diferentes na mesma sentença. Quando é feito de modo intencional, é visto como figura de linguagem, quando sem intenção, trata-se de um vício de linguagem (“subir para cima”, “entrar para dentro” e similares).
Exemplo:
“Me sorri um sorriso pontual” (Chico Buarque)
A repetição é feita propositalmente por Chico Buarque para intensificar o sorriso visto pelo eu-lírico e para gerar maior sonoridade à canção.
Silepse
A silepse ocorre quando a concordância é feita com a ideia que as palavras expressam, e não com a sua forma gramatical.
Pode ocorrer silepse de número, de gênero e de pessoa, conforme explicitado a seguir, respectivamente:
Já toda a gente estava indignada. Queriam ouvir. (Em vez de “Toda a gente queria ouvir.”)
Vossa Senhoria pode ficar tranquilo. (Em vez de “Vossa Senhoria pode ficar tranquila.”)
Todos estávamos na festa. (Em vez de “Todos estavam na festa.”)
Elipse
A elipse é a omissão de um termo na sentença sem haver prejuízo de sentido. Isso porque o termo omitido fica subentendido pelo contexto.
Exemplo:
Começamos o namoro há um mês.
Na frase, houve omissão do sujeito “Nós”, que está subentendido pela conjugação do verbo “começar”.
Exemplo:
O menino apoiou-se na bancada, olhos e ouvidos atentos.
No exemplo houve elipse da preposição “com”: (...) com os olhos e os ouvidos atentos.
“Subiu a escada. A cama arrumada. O quarto. O cheiro do jasmineiro. E a voz de uma das filhas, embaixo:
— Papai! O telefone...”
(Machado de Assis)
No exemplo, há uma série de elipses usadas como recurso estilístico para descrever de maneira esquemática e ágil os ambientes, os estados de alma, de perfis etc.
Zeugma
O zeugma é um tipo de elipse: ocorre quando há omissão de um termo na sentença, mas porque tal termo já foi utilizado anteriormente e, portanto, será subentendido.
Ele vai bastante à praia, mas também às montanhas.
No exemplo, em vez de repetir o termo “vai [às montanhas]”, já utilizado no início da sentença, optou-se por omiti-lo, visto que está subentendido.
Assíndeto
O assíndeto é outro tipo de elipse: trata-se da omissão de conjunções (“e”, “mas”, “porque”, “logo” etc.)
“Vim, vi, venci.” (Júlio César)
Não havia sido convidada para a festa, foi mesmo assim.
Nos exemplos, foram omitidas as conjunções “e” e “mas”, que apareceriam entre as palavras grifadas.
Polissíndeto
O polissíndeto é a repetição proposital de uma mesma conjunção como recurso estilístico.
“Vão chegando as burguesinhas pobres
e as criadas das burguesinhas ricas
e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.”
(Manuel Bandeira)
No excerto, a mesma conjunção “e” é usada repetidamente para ligar as sentenças.
Anáfora
A anáfora é a repetição proposital de uma mesma palavra ou expressão como recurso estilístico, dando ênfase àquilo que se repete. É muito utilizada em poesias e músicas.
“É preciso casar João,
é preciso suportar, Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.”
(Carlos Drummond de Andrade)
A repetição do termo “é preciso” em todo verso constitui a anáfora.
Hipérbato
O hipérbato ocorre quando há inversão proposital de palavras ou de trechos nos enunciados como recurso estilístico.
“Ouviram do Ipiranga às margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante”
(Hino Nacional Brasileiro)
Os primeiros versos do Hino Nacional Brasileiro são compostos por hipérbatos para gerar rima e pelo recurso estilístico. O enunciado poderia ser escrito da seguinte maneira para facilitar o seu entendimento: Ouviram o brado retumbante de um povo heroico às margens plácidas do Ipiranga.
Anacoluto
O anacoluto ocorre quando há mudança de construção sintática no meio do enunciado, gerando uma quebra nele e deixando um termo solto, sem exercer função sintática.
“Umas carabinas que guardava atrás do guarda-roupa, a gente brincava com elas, de tão imprestáveis.”
(José Lins do Rego)
No meio do enunciado, o narrador optou por utilizar a sentença “a gente brincava com elas”, fazendo referência às carabinas. Isso, porém, fez com que o termo “umas carabinas”, que iniciou a sentença, ficasse solto do restante do enunciado, servindo apenas para esclarecer a frase no meio dele.
FIGURAS DE FONÉTICA
Aliteração
A aliteração é a repetição de um mesmo som consonantal propositalmente em um texto como recurso estilístico.
“Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.”
(Cruz e Souza)
No excerto, ocorre aliteração com o som da letra “V” e das letras “S” e “Z”, o que pode dar a ideia de vozes sussurrando.
“Maioral, melhores momentos
Marginal, maldito movimento
Melodia, memória mó mensageiro”
(MC Lon)
No excerto, a repetição do som consonantal da letra “m” gera aliteração.
Assonância
A assonância é a repetição de um mesmo som vocálico propositalmente em um texto como recurso estilístico.
“Berro pelo aterro, pelo desterro
Berro por seu berro, pelo seu erro
Quero que você ganhe, que você me apanhe
Sou o seu bezerro gritando mamãe”
(Caetano Veloso)
No excerto, ocorre assonância com o som das letras “e” e “o”.
Paranomásia
A paranomásia é a aproximação de palavras com sons semelhantes, mas significados diferentes.
“Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs”
(Almir Sater e Renato Teixeira)
No excerto, ocorre paranomásia entre os pares de palavras “manhas” e “manhãs”, “massas” e “maçãs”.
Onomatopeia
A onomatopeia é a tentativa de reproduzir sons e barulhos pela escrita. É muito comum em histórias em quadrinhos.
Derrubou o prato enquanto enxugava a louça: CRASH!
“Do berro, do berro que o gato deu: miau!” (Cantiga popular)
Nos exemplos, “crash” tenta reproduzir o som do prato quebrando, enquanto “miau” tenta reproduzir o miado do gato.
As figuras de linguagem enriquecem o trabalho linguístico.
FONTE:
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