Fonte: Academia Brasileira de Letras
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DIVISÃO SILÁBICA DAS PALAVRAS NÁUSEA E ETÉREO
O questionamento do nosso leitor (náu-sea ou náuse-a?, e-té-reo ou e-té-re-o?)se explica porque nos ditongos crescentes é indecisa e variável a pronúncia que se imprime à semivogal, fenômeno de que resulta a dupla possibilidade de se articular a sequência vocálica tanto como ditongo crescente (náu-sea, e-té-reo) quanto como hiato(náu-se-a, e-té-re-o), conforme a rapidez (no primeiro caso) ou a lentidão (no segundo caso) com que se pronunciam tais vocábulos.
Recordemos que se chama hiato a sequência de duas vogais em sílabas diferentes:sa-ú-de, sa-í-da. Pronúncias ditongadas como náu-sea e e-té-reo são mais comuns no falar rápido dos portugueses de hoje; entre brasileiros, que falamos mais claro e pausadamente (Eça de Queirós dizia que o português do Brasil era o português com açúcar),o ditongo é menos sentido, em favor do hiato. Na leitura de poemas de versos que se sucedem com o mesmo número de sílabas (isossilábicos) podemos verificar que uma mesma palavra proferida com mais rapidez ou lentidão pode ter o seu conjunto silábico lido como ditongo ou como hiato. É célebre o exemplo da palavra ‘saudade’ lida primeiro com três sílabas e depois com quatro, logo no início do poema “Camões”, do poeta português Almeida Garrett (leia-se / garretee/).
Em sistemas ortográficos anteriores a 1971 facultava-se o emprego do trema em palavras como saüdade e vaïdade, usadas em poesia para indicar a leitura delas com quatro sílabas métricas. Até aqui vinhamos falando de fenômenos fonéticos, em que vocábulos como náusea e etéreo podiam ter pronúncias diferentes.Todavia quando passamos para as normas ortográficas, mudam-se os critérios, porque por eles não se podem separar as vogais dos ditongos crescentes ou decrescentes, bem como dos tritongos; portanto, pelos critérios ortográficos, só podemos separar assim as sílabas náu-sea e e-té-reo. Está claro que, numa análise fonéticofonológica de um poema em que apareça a palavra saudade com três ou quatro sílabas, separa-se foneticamente sau-da-de e sa-u-da-de, mas não na transcrição ortográfica do poema. Atente-se para a divisão ortográfica de pas-so e cor-ri-da, que não corresponde à análise dos fonemas de passo e corrida, em que 'ss' e 'rr' são grafias de um só fonema.
O certo: náu-sea e e-té-reo.
Texto do lexicógrafo Evanildo Bechara, em O Dia (RJ), 15/5/2011, encontrado no site da Academia Brasileira de Letras.
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